segunda-feira, 14 de março de 2011

excerto de ti

Ao longe via as luzes dos barcos competindo com as estrelas no negro do céu, no negro do mar. Esvaziava-me de tudo e via o teu olhar agressivo, quase com vontade de me espancar ate perder os sentidos. Talvez fosse esta a tua estratégia para que eu enfraquecesse e voltasse da ausência a que me impus. Mas infelizmente a agressividade e violência não me assustam, tenho disso cá dentro, condimentado com doses excessivas de raiva, revolta e inconformismo.

Assim se passam semanas continuadas de rejeição, de retaliação quase bélica, continuadas de barcos a competirem com as estrelas, continuadas de andar à deriva no negro da noite. O espírito desmoronava-se como calotas polares aquecidas pelo erro, geladas pelo desespero da solidão nos confins do planeta. As ideias perdiam o rigor a nitidez e tudo se transformava em líquido turvo de angústia e euforia por ser livre e estar preso à solidão.


As ondas espraiavam, os dias perderam as datas, as noites eram igualmente dias e vice-versa, o tempo e o espaço e a claridade da lucidez perderam toda a sua validade, num esquecimento corrompido pela vontade de partir. De barco até às estelas, ou exclusivamente pelo meu próprio pé para junto de ti.

Resistira a tudo tempo demais, reconheci sempre o valor da mulher que eras, minha fera dócil, meu luar iluminado de branco pérola, meu céu, minha terra, meu corpo oposto e completo, meu sexo perfeito, meu gemido ao ouvido, meu sorriso, minha lágrima cristalina, meu mar, minha mulher, minha menina.

Tesouro inesgotável de sentimentos armadilhado pela vida, pelo sonho, pela raiva, pelo amor, por tudo e por nada, minha magia, minha fada, fado do meu coração, porto do meu destino, desventura desconcertante, minha alucinação constante.