sexta-feira, 6 de maio de 2011

bafo da vida solto no som



Na guitarra solta pelo ar da sua musica, os pensamentos fazem-me acreditar que tudo é possível, que o lado negro dos dias não se manifeste na peste da vida a ser sugada pelo tempo. Tudo flutua.
As imagens circulam-me na visão desfocada pelo movimento do guardião nervoso do outro mundo, as sombras esguias que penetram nos espaços soltos da calçada humedecida pelo sangue que me escorre das mãos, dissolvem-se em fumo frio que respiro como oxigénio vitalício. Nada se aguenta fixo na realidade, tudo é névoa.
Mas tá-se cool e tá-se bem, pois é agora que convém.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Aphex twin - Digeridoo

corre corre bandido que eles vêm atrás.
não pares não respires que te cheiram
a carnificina do medo espalhado nas florestas.
desvia-te das árvores rugosas que te arranham
a carne do corpo fugitivo...e os cães sorvem o sangue
que deitas sobre a fuligem estanque
dum planeta que ardeu.
corre, foge, resiste ao cansaço
porque Deus não está contigo.
...Estás perdido?
insiste porque os lugares não existem
só fuga.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

masters of war - bob dylan (cover)

Os mestres da guerra que se escondem por detrás da cortina manipulando-nos como mestres de marionetas. Podem dizer que sou jovem, que estou acabado, ou mesmo perdido da linha que orienta uma vida regrada...
Pois eu digo-lhes o seguinte:
-Se querem que as guerras existam, lutem-nas eles mesmos, mestres da cobardia, mestres da morte alheia, mestres dos cordelinhos, mestres de coisa nenhuma.
O único mestre que reconheço já não está entre nós, nunca esteve entre nós, nem nunca estará. Ah pois é o meu mestre anárquico e inexistente é a consciência que me falta.

O Destino

O palhaço hard-core grita com o seu amigo ao insulto da sociedade, rebuscado nas ideias dos seus pensamentos distorcidos, ecoa-lhe na mente o ideal da destruição, como elemento criador de um mundo sem dor.

Aquela dor que todos experimentamos ao longo da vida, dos erros que nós e outros cometem e que nos afectam directa ou indirectamente. A dor das situações amargas que se tendem a repetir vezes e vezes, não sei se por esquecimento, se por inconsciência ou se por uma força indomável que só existe para fazer troça da nossa fragilidade psíquica: O Destino.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Planeta tóxico

No azul da atmosfera há tantas substâncias...

Prendo a visão no céu à espera que algo divino aconteça, respiro o ar composto sei lá de quê e perco o ponto focal no aparente infinito.Separo o cérebro em decompostas partículas, tão decompostas que também as inalo. Tenho pedaços de mim no meu interior, partes de memórias agora partem dos pulmões para a corrente sanguínea e da corrente sanguínea possivelmente para o cérebro novamente. Alucinado de mim mesmo com químicos que todos produzimos e os olhos postos no céu.Algo divino aconteceu.Eu, Tu, Nós, Vós, Eles e todos os outros pedaços de todos que vagueiam pelo Todo em troca constante de algo por algo.As vezes estou trancado no teu coração consumindo-te por dentro, alimentando-me dos teus cancros, de mais e mais partículas que nos são de uma só vez. Quando faço sexo contigo faço-o comigo e os meus fluidos são também os teus, partilhando uma toxicidade inebriante e sagrada, como o som de um martelo pneumático às cinco da manhã.As nuvens são a droga do tempo e o tempo a droga da morte e a morte a droga da vida e a vida a droga do amor. E tu meu pedaço químico externo a tudo, droga da minha existência à solta num planeta tóxico...

segunda-feira, 14 de março de 2011

excerto de ti

Ao longe via as luzes dos barcos competindo com as estrelas no negro do céu, no negro do mar. Esvaziava-me de tudo e via o teu olhar agressivo, quase com vontade de me espancar ate perder os sentidos. Talvez fosse esta a tua estratégia para que eu enfraquecesse e voltasse da ausência a que me impus. Mas infelizmente a agressividade e violência não me assustam, tenho disso cá dentro, condimentado com doses excessivas de raiva, revolta e inconformismo.

Assim se passam semanas continuadas de rejeição, de retaliação quase bélica, continuadas de barcos a competirem com as estrelas, continuadas de andar à deriva no negro da noite. O espírito desmoronava-se como calotas polares aquecidas pelo erro, geladas pelo desespero da solidão nos confins do planeta. As ideias perdiam o rigor a nitidez e tudo se transformava em líquido turvo de angústia e euforia por ser livre e estar preso à solidão.


As ondas espraiavam, os dias perderam as datas, as noites eram igualmente dias e vice-versa, o tempo e o espaço e a claridade da lucidez perderam toda a sua validade, num esquecimento corrompido pela vontade de partir. De barco até às estelas, ou exclusivamente pelo meu próprio pé para junto de ti.

Resistira a tudo tempo demais, reconheci sempre o valor da mulher que eras, minha fera dócil, meu luar iluminado de branco pérola, meu céu, minha terra, meu corpo oposto e completo, meu sexo perfeito, meu gemido ao ouvido, meu sorriso, minha lágrima cristalina, meu mar, minha mulher, minha menina.

Tesouro inesgotável de sentimentos armadilhado pela vida, pelo sonho, pela raiva, pelo amor, por tudo e por nada, minha magia, minha fada, fado do meu coração, porto do meu destino, desventura desconcertante, minha alucinação constante.